Um pouco da história do Bem-Estar Animal
Idade moderna

René Descartes (1596-1650)
Esse pensamento se baseia na ideia de que se fosse possível reproduzir todas as funções fisiológicas do organismo animal, como respiração e circulação sanguínea, em uma máquina esta não poderia ser diferenciada do próprio animal.
Com isso Descartes conclui que os animais são desprovidos de razão e emoções por não serem capazes de expressá-las, o que justificaria o uso de animais para experimentação e produção sem a preocupação de causar estresse e dor à eles.
O filósofo francês René Descartes (1596-1650) defendeu a ideia de que os animais são seres semelhantes à máquinas, desprovidos de razão e emoção.

Segundo esse mesmo pensamento o ser humano se diferencia dos animais e das máquinas por ser capaz de expressar seus pensamentos através de palavras e outras formas de comunicação, o que segundo o filósofo não seria possível de ser realizado por máquinas e animais.
1945
Fim da
II guerra mundial

Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 houve um aumento da demanda por proteína animal no mundo. O fim do conflito também gerou uma intensa modernização rural possibilitada pela adaptação de novas tecnologias desenvolvidas durante a guerra para a atividade agropecuária, como o uso de tratores e fertilizantes.

Essa intensa modernização rural, somada com a maior demanda por produtos de origem animal, fez com que a produção animal se desenvolvesse rapidamente, ficando muito mais intensiva. Porém essa alta intensificação levou a uma grande piora na qualidade de vida dos animais nessas produções.
1964
Publicação do livro animal machines
A grande intensificação da produção animal e suas consequências na qualidade de vida dos animais chamou a atenção da jornalista britânica Ruth Harrison (1920-2000), levando-a a publicar em 1964 o livro Animal Machines, no qual expressa sua preocupação com as condições de vida a que esses animais estavam submetidos.

O livro causou grande impacto na sociedade da época, gerando demandas pela alteração do modelo produtivo e melhora na qualidade de vida dos animais.



Ruth Harrison (1920-2000)
1965
Criação do Comitê Brambell

Dessa investigação foi gerado o Relatório Brambell, atestando que os animais eram submetidos à condições de vida precárias dentro das produções, sendo necessário repensar o modelo produtivo.

No relatório é dito que os animais deveriam pelo menos ser livres para se levantar, deitar, se virar, limparem-se e livres para esticarem seus membros. Essas cinco recomendações serviram de base para o desenvolvimento das 5 Liberdades que conhecemos hoje.
1967
Criação do fARM ANIMAL WELFARE ADVISORY COMMITTEE

1979
Criação das 5 liberdades

O governo britânico, em resposta ao livro Animal Machines de Ruth Harrison, organizou o Comitê Brambell, liderado pelo Prof. Rogers Brambell (1901-1950), para investigar a situação em que se encontravam os animais nos sistemas de produção animal.
Em resposta ao Relatório Brambell, o governo britânico criou o Farm Animal Welfare Advisory Committee em outubro de 1967 para monitorar a qualidade de vida dos animais nas produções.
O FAWAC foi substituído pelo Farm Animal Welfare Council em julho de 1979, sendo este responsável por estabelecer as 5 Liberdades que conhecemos atualmente, sendo elas:

Em 1986 temos a definição do conceito de bem-estar pelo Prof. Donald Broom:
"Bem-estar é o estado do organismo durante as suas tentativas de se ajustar ao seu ambiente".

Em termos de qualidade de vida envolve todas as situações, desde aquelas que colocam a vida do animal em risco até aquelas em que ele está em harmonia com seu ambiente. O Prof. Broom ainda traz outras definições:

1. Bem-estar é uma característica de um animal e não algo que pode ser fornecido a ele (não podemos dar bem-estar aos animais e sim oferecer recursos para que eles o melhorem).
2. Bem-estar pode variar de muito ruim a muito bom (não é absoluto).

3. O bem-estar deve ser medido cientificamente, idependente de condições morais (é uma ciência).
4. O bem-estar de um dado animal é ruim quando ele tem dificuldades de manter o controle das funções orgânicas ou falha nessa tentativa (devemos promover o BEA para garantir que ele seja bom).

Em 2000, a OIE se torna o primeiro órgão internacional a assumir responsabilidade do movimento BEA. A definição utilizada pela OIE é semelhante a do Prof. Broom, mas com algumas adições, então já se nota a ampliação do conceito através de um consenso da ciência.
anos 2000

Em 2009 teve uma mudança de paradigma, pela própria FAWC, com a posição de "Uma Vida que Valha a Pena Ser Vivida" no lugar das "5 Liberdades". A justificativa é que mesmo com melhoras a partir de 1965, são necessários novos progressos para se ter certeza de que cada animal de produção teve uma vida digna de ser vivida.

Em 2009 teve uma mudança de paradigma, pela própria FAWC, com a posição de "Uma Vida que Valha a Pena Ser Vivida" no lugar das "5 Liberdades". A justificativa é que mesmo com melhoras a partir de 1965, são necessários novos progressos para se ter certeza de que cada animal de produção teve uma vida digna de ser vivida.

O porquê de assegurar o bem-estar dos animais é uma questão ética, mas como fazer isso é uma questão técnica também. Diferentes profissionais trazem estudos sobre como mensurar, avaliar e aplicar a ciência do bem-estar animal.

Como exemplo, podemos mensurar o Prof. David Mellor em 1994 e os 5 domínios, o projeto Welfare Quality em 2009 com seus princípios e critérios e o Prof. Bradshaw em 1998 que declara:
"Na ausência de evidências científicas devemos utilizar o princípio da precaução, dar ao animal o benefício da dúvida científica e moral".

A evolução da pesquisa do BEA com diferentes profissionais e mudanças de paradigma demonstram que as implementações decorrentes das 5 Liberdades são válidas até hoje, mas com o passar dos anos, são necessárias atualizações.

De forma geral, no estudo do BEA, devemos encontrar as melhores medidas (indicadores) de bem-estar animal, tendo como base o ambiente ou o animal.

As medidas podem ser classificadas de acordo com a origem da informação, nos animais utilizamos indicadores fisiológicos (ex. análise do nível de cortisol), comportamentais (ex. estudos de preferências) e de desempenho (ex. produção de leite).

Em 2012 ocorreu a Declaração de Cambridge sobre Consciência Animal:
"O peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência".

As evidências de vários estudos científicos chegaram a conclusão que diferentes manifestações de consciência podem ser observadas em animais, pois as estruturas que nos diferenciam, como o córtex cerebral, não são as responsáveis pelas manifestações de consciência, mas sim outras estruturas do cérebro que temos semelhantes a de muitos outros animais.

Esses estudos nos ajudam a entender que uma grande variedade de animais são seres sencientes. Isso significa que eles têm a capacidade de experimentar sentimentos positivos e negativos, como prazer, alegria, dor e angústia. Atualmente busca-se olhar além de evitar estados negativos, mas promover os estados positivos dos animais.

Além disso, há produção de vários protocolos para que haja padrões viáveis, confiáveis e adequados para o manejo de muitas espécies de animais. Também há diferentes selos garantindo a certificação de alimentos e produtos.

O conceito de Bem-Estar Único (BEU) é outro foco muito atual do BEA que reúne o bem-estar humano, animal e o equilíbrio ambiental.
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Em 2013 foi fundado o GEBEA por graduandos da Medicina Veterinária da FMVZ-USP e coordenado pelo primeiro Médico Veterinário Doutor em bem-estar animal do mundo, Professor Adroaldo Zanella.


anos 80

Nos anos 80 houve um momento importante de ênfase nos estados afetivos dos animais, que não houve no momento do Relatório Brambell. Os grandes nomes por trás desses estudos incluem a Profa. Marian Dawkins e o Prof. ian Duncan.

É uma iniciativa dos alunos com o intuito de promover palestras, cursos, estudos dirigidos, seminários, dentre outros eventos relacionados às ciências de etologia e bem-estar animal.